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O líder do século XXI

Durante todo o século XX, o modelo gerencial padrão se apoiou no conceito de estrutura hierárquica. Tarefas eram atribuídas e passadas através de uma rede onde cada um tinha papéis específicos, dependendo de sua função e de sua especialidade. Alguns vendiam, outros produziam, compravam, pagavam, recebiam, contabilizavam, entregavam, e assim por diante. O modelo gerencial ideal propunha a especialização contida em compartimentos fechados (departamentos), que logo se tornaram “ilhas de informações e poder”. Os sistemas ERP propuseram a quebra das paredes dos compartimentos, através de sua proposta de integração dos processos de negócios da empresa. Conseguiram fazer isso rapidamente no que diz respeito ao compartilhamento das informações, mas demoraram um pouco mais até quebrar a hierarquia de poder relacionada às funções exercidas.

Como nosso presidente, eu também acho o futebol uma boa analogia (embora a utilize um pouco mais criteriosamente). No futebol de minha infância, o padrão de sucesso era o time do Brasil, composto de laterais (direito e esquerdo), zagueiro central, quarto zagueiro, médio volante, meias (direita e esquerda), centro avante e pontas (direita e esquerda). Esse foi o padrão de beleza até que na Copa de 1974 o time da Holanda quebrou todos os padrões. O chamado “carrossel holandês” quebrou todos os paradigmas e literalmente triturou todos os outros times (inclusive o Brasil), só perdendo a Copa porque futebol não tem lógica mesmo. A partir daí sumiram os especialistas no futebol. Goleiro pode chutar em gol (vide Rogério Ceni), os laterais viram alas (que defendem e atacam) e o meio de campo é composto de um até três volantes (time do Dunga). Na frente existem atacantes, que ora caem para um lado, ora caem para outro. Os atacantes que têm a capacidade de armar jogo (tipo Kaká) são meias apoiadores, que podem virar centro avante a qualquer instante. Deu para entender?

Sintomaticamente, algo muito parecido aconteceu no mundo corporativo, na última década do século XX. Desta vez não foram os holandeses que inovaram e sim os japoneses. Ao criar o conceito de manufatura flexível e células de manufatura, eles copiaram o carrossel do Kruyff dentro das fábricas. Mais adiante, esse modelo polivalente, amplamente copiado por todos, começou a ser praticado também pelos colarinhos brancos. Desta vez, realmente o ERP influenciou, pois ao integrar os processos obrigou os profissionais a entenderem um pouco do que estava “rio acima e rio abaixo”, em relação à sua função. Imediatamente percebeu-se a imensa vantagem de se contar com profissionais polivantes. As famosas re-engenharias de processos, com conseqüente enxugamento das organizações, acabaram por consolidar essa tendência.

No final da revolução das re-engenharias de processo e das implementações de sistemas ERP, constatou-se que um elo tinha sido esquecido: o modelo gerencial. Este continuava totalmente hierárquico, refletindo os padrões do século XX. Sabemos que o século XXI é o século da criatividade. Organizações criativas priorizam as mudanças contínuas, às vezes caóticas, para garantir a manutenção da liderança. Neste ambiente as gerências tradicionais perdem força, mais que isso atrapalham.

As organizações, para sobreviver num mundo onde a inovação é contínua, tiveram que adotar um modelo horizontal, onde todos devem entender um pouco de todos os processos e muito do seu próprio. Qual o papel do novo líder nessas organizações? O líder passa a ser um re-distribuidor de responsabilidades. A todo o momento ele analisa a situação e redistribui tarefas. Ao mesmo tempo, os liderados também assumem, em comum acordo com seus pares, novas tarefas. O gerente eficaz se torna mais que nunca um gerente de projetos, onde cada situação é como um projeto novo que deve ter recursos alocados, prioridades definidas e execução controlada. Terminado um projeto, uma nova organização pode ser estabelecida para enfrentar o próximo desafio. E, como no “carrossel holandês”, todos trocam de posição todo o tempo.

Nesse novo modelo, o talento gerencial mais importante passa a ser a capacidade de análise de situação, visando tomar decisões e re-distribuir tarefas rapidamente. E como fica a liderança em aspectos como motivação e comunicação com as equipes? Fica mais importante do que nunca, pois o tempo disponível para vender idéias é cada vez mais curto.

Se você aí que está lendo este artigo tem dúvidas a respeito, observe um pouco melhor o que já está acontecendo à sua volta. Às vezes o técnico ainda não se deu conta, mas os seus jogadores já trocaram as camisas entre si.

julho 4, 2007 Posted by | Comunicação, corporativo, Inovação, Negócios, RMA | Deixe um comentário