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Resistência e resiliência

Em meu último artigo eu falei sobre as empresas dinâmicas, geradas no ventre do mundo dinâmico do século XXI. Para quem não leu, o artigo focava a resistência enorme que todos nós, seres humanos, temos às mudanças. Aquele artigo terminou “no meio”, ou seja, por falta de espaço não pudemos contrapropor algo à atitude resistente, natural dos seres humanos. Por essa razão decidi por escrever uma “continuação” daquele artigo, sabendo de antemão que meu editor pode ser resistente a essa idéia.

Resistência e resiliência são duas palavrinhas muito parecidas. Se elas são parecidas na fonética, são completamente distintas em seu significado. Resistência é sinônimo de conservadorismo. Conservadorismo é sinônimo de coisa antiga, de século passado, ou até de dois séculos passados. O mundo lento da rainha Victoria podia se dar ao luxo de ser resistente a mudanças. O mesmo não se dá com o mundo sem folêgo dos tempos do Bill Gates e do Osama Bin Laden. Nós vivemos o século da resiliência. Além da sonoridade, trata-se de uma palavrinha simpática e talvez a palavra mais moderna do léxico. Resiliência é sinônimo de humildade. Ser resiliente é se confessar ignorante; é aceitar que as mudanças são inevitáveis e necessárias, mesmo que a gente inicialmente não as entenda e tenha mêdo delas.

Se consultarmos o dicionário, eis uma definição léxica do termo resiliência: “resiliência é a quantidade de energia que pode ser absorvida por um material, até o limite de sua elasticidade, sem que ele seja deformado”. Trocando em miúdos, ser resiliente significa absorver impactos sem se deformar. Ou, melhor que isso, essa sim seria a definição perfeita: ser resiliente é absorver impactos, aceitando uma deformação temporária, para logo após retornar à forma original.

Trazendo as definições para o âmbito dos materiais, o material mais resistente é geralmente o de maior dureza. Materiais duros quebram. Materiais resilientes vergam, mas não quebram. O ferro é resistente, mas o aço é resiliente. Porisso as espadas são feitas de aço e não de ferro. Levando o conceito para o âmbito das nações, podemos dizer que os governos totalitários são resistentes (às mudanças), por serem dogmáticos. Comunistas, ou fascistas são igualmente resistentes. Governos democráticos são resilientes, pois absorvem o impacto da rejeição pública de idéias e aceitam as mudanças em prol do benefício da maioria.

No âmbito das empresas, as resistentes tendem a ser pouco competitivas. Já as empresas globais, aquelas que atuam como parte de uma grande cadeia integrada de suprimentos, são extremamente resilientes. A Dell exige que seus fornecedores tenham centros de distribuição próximos de suas fábricas, supridos para atender às variações de demanda com prazos de entrega de, no máximo, duas horas (!?). Será que esses fornecedores globais, chineses, taiwaneses, indianos, etc, podem se dar ao luxo de serem resistentes?

Finalmente, no âmbito das pessoas, que colaboram dentro das empresas resilientes com seu trabalho, só resta uma alternativa: serem resilientes também. Será que então ser resiliente significa “engulir sapos, sem chiar”? Não é nada disso. Ser resiliente significa não resistir ao impacto das mudanças propostas, absorvendo temporariamente ao impacto, até que possamos responder pro-ativamente com uma atitude positiva. Para não ficar apenas na teoria vamos exemplificar. Meu chefe me chama logo pela manhã com uma proposição difícil de engolir: Sr. Fulano por favor saia de sua sala, que está me custando muito caro e sente-se no meio do salão, junto com seus funcionários. Atitude resistente: não aceito e sou demitido, ou até pior que isso, tenho que engulir “goela abaixo”. Atitude resiliente: me mudo imediatamente e procuro observar as vantagens e desvantagens da mudança. Depois de uma semana uma de duas possibilidades pode acontecer:

1.       Descubro que minha produtividade aumentou muito pela integração continua com a rotina de meus funcionários, compensando amplamente o desconforto num salão aberto e ruidoso. Ou…

2.       Descubro que estou utilizando a sala de reuniões todos os dias, pois a maioria dos assuntos que me trazem são confidenciais e não podem ser discutidos a portas abertas. Está saindo mais caro bloquear a sala de reunião do andar o dia todo, do que ter minha própria sala. Volto ao chefe, exponho a situação e ele se convence em me dar uma sala um pouco maior que a antiga, já com uma mesinha de reunião no canto.

 

Em qualquer das duas hipóteses o resiliente saiu ganhando, já o resistente… Esse exemplo banal reflete bem os possíveis impactos de atitudes resistentes versus resilientes nos dias de hoje. Vamos agora levar o cenário para algo um pouco mais complexo como, por exemplo, a implementação de um novo sistema de gestão de negócios, imposto top down pela nossa matriz nos Estados Unidos. Se eu for resistente, na melhor das hipóteses, vou ter que aceitar o sistema e ainda sair dessa com fama de antiquado. Por outro lado, se eu me adiantar e oferecer meu departamento para participar do time de pioneiros que vai testar o sistema e multiplicar o conhecimento para meus colegas, é provável que saia dessa promovido. É isso. Resistir implica em perdas, aderir de forma raciocinada e positiva pode resultar em ganhos, ou, no mínimo, em não ter perdas. Logo, a decisão é simples: não resista, mas auxilie com seu conhecimento e apoio para melhorar as chances de sucesso das mudanças propostas.

 

junho 25, 2007 - Posted by | arte, Comunicação, corporativo, Informação, Inovação, Midia Social, Negócios, RMA, web 2.0

1 Comentário »

  1. OS RESILIENTES

    Enquanto o tempo fecha,
    o céu azul-
    estrelado ou não
    nublado ou não
    chuvoso ou não
    paira sobre os filhos do aço
    e das folhas de flandres,
    os resilientes.

    E quando o tempo abre
    é sempre nova a novidade.

    Leonor Vieira-Motta

    Comentário por leonor | julho 15, 2007


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