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A febre dos IPO´s

 

Até pouco tempo atrás a sigla IPO (Initial Public Offering) era uma incógnita para a maioria de nós mortais. Quem lia o caderno de economia dos jornais sabia que era algo relacionado a Wall Street e a executivos sorridentes enquanto faziam soar o sino da Bolsa de Valores de NY. De repente, o termo se tornou popular, e até os motoristas de táxi já falam das novas empresas entrando na bolsa (IPO) e das oportunidades implícitas. O que aconteceu? Mudaram os tempos, ou mudaram os taxistas? Ambos mudaram.
O Brasil, gostemos ou não, é parte integrada de um mundo globalizado. No mundo globalizado a população tem renda crescente (menos aqui do que lá) e, conseqüentemente, demanda mais (mais produtos, mais serviços, mais, mais, mais…). Esse aumento de demanda se reflete na explosão da atividade industrial ocorrida no Brasil nos últimos dois ou três anos, com nossa base produtiva se aproximando rápida e perigosamente de seus limites de capacidade. Isso se lê de duas maneiras: existe uma enorme oportunidade, mas também pode haver risco de inflação à vista, se não vierem novos investimentos. Nos bons e velhos tempos do “estado paizão” (ai que saudade!), dos PND´s, dos juros subsidiados (por nós mesmos, coitadinhos), do BNDES de “tetas fartas”, o empresário corria logo atrás dos financiamentos de risco zero.

Lamentavelmente, nem todo o dinheiro coletado foi empregado na expansão dos negócios e acho que esse não é o foro mais adequado para se discutir tal assunto (aliás, carne de vaca). O fato é que com a evolução do capitalismo tupiniquim, “as tetas secaram” e mesmo o BNDES é hoje um banco mais cioso em seus julgamentos de valor (ou seja, não empresta dinheiro para qualquer um e, se empresta, quer ser remunerado adequadamente e saber direitinho onde o dinheiro estará sendo aplicado). De início os empresários mal acostumados chiaram, clamando por novos planos de desenvolvimento industrial (sinônimo de empréstimo estatal barato), até que, roucos, perceberam que teriam que abrir seu próprio caminho. Aí tentaram os bancos, mas rapidinho se aperceberam que, enquanto a SELIC estiver alta para financiar o déficit público, os bancos também vão praticar juros extorsivos. Que alternativas restam? Uma só: tomar dinheiro público, de risco, abrindo o capital da empresa, ou seja fazendo IPO.
Desde o início do ano, 37 empresas já fizeram IPO na Bovespa. As empresas brasileiras já captaram 27 bilhões de reais (950,4 milhões de euros) com a venda de papéis em bolsa, quase o dobro dos 14 mil milhões de reais contabilizados no ano passado. Destas operações, 22 empresas entraram em bolsa depois de fazerem o seu IPO. O Brasil está perto de atingir um volume recorde de Ofertas Públicas Iniciais de ações.
E quem nem está comprando ações, nem está pensando em abrir capital, como se posiciona em relação ao fenômeno? Minha sugestão: é bom ficar esperto. Cedo ou tarde, a maioria das empresas brasileiras acima da linha de R$ 100 milhões de faturamento anual (essa é a nova linha de corte da Bovespa) terá que pensar em IPO. Só que o caminho até “o pote de ouro na outra ponta do arco íris” não é tão simples assim. Existe uma lição de casa a ser feita e muitas vezes esse trabalho vai tomar anos de esforço consistente e concentrado. Por essa razão, quase que simultaneamente à febre dos IPO´s, surgiu a febre da Governança Corporativa. Muito simples: sem governança corporativa não existe IPO, ou seja, o público só colocará seu rico dinheirinho em empresas com gestão transparente. Novas regras surgiram com o chamado “Novo Mercado” (um sub-segmento do Bovespa que desde o princípio exigia padrões de governança americanos para quem quisesse abrir capital) e com reflexos imediatos na Lei da SA´s. E governança corporativa pega para todo mundo, do presidente ao office boy. Passivos trabalhistas têm que ser zerados, procedimentos contábeis têm que ser aderentes aos procedimentos internacionais, auditorias externas são requeridas, o “caixa dois” literalmente vai para o espaço, documentos são padronizados e têm que ser retidos, os estoques de quaisquer espécies têm que ser contabilizados, a logística tem que ser eficaz, os custos de produção adequados, etc. Ou seja, vai pegar para o engenheiro, para o contador, para o financeiro, para o gestor de suprimentos, enfim, para todo mundo na empresa.
Isso tudo parece difícil e dolorido, mas trata-se de um parto e não existem partos sem dor. Trata-se do parto de um bebê há muito dormindo em berço esplêndido, de nome Brasil. Se os políticos (que infelizmente somos nós mesmos) deixarem, esse bebê vai crescer, vai se tornar forte e, quem sabe, bater em muitos outros “moleques emergentes” que já aprontam das suas pelo mundo afora.

agosto 10, 2007 - Posted by | Comunicação, corporativo, Inovação, Negócios, RMA

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